SENTIMENTOS DE CULPA

SENTIMENTOS DE CULPA
É chegado o tempo de se compreender com clareza a diferença entre culpa real e falsa culpa. De forma simples, podemos estabelecer que a culpa se revela vazia quando o fruto dos atos praticados for isento de dano espiritual verdadeiro, a si ou a outrem. Contudo, é preciso buscar compreensão espiritual para um correto discernimento.
A culpa, fundada ou infundada, não pode ser considerada senão como algo independente de qualquer sistema de crenças, moral ou religioso. Usada muitas vezes para escravizar e torturar almas vulneráveis, a culpa perde logo seu terror se analisada sob o viés claro da Lei da Reciprocidade.
Tudo o que fazemos corre pela trama das Leis do Universo, as quais trazem de volta a cada um o que este gerou, imputando a cada ato o inflexível efeito recíproco, seja tal ato decorrente de ações propriamente, de palavras, de pensamentos ou mesmo de sentimentos. Cada ato ocasiona uma reação correspondente de matéria grosseira ou mais fina (invisível), devolvendo ao semeador frutos doces ou amargos, correspondentes ao que foi gerado.
Há alguns padrões de sentimentos de culpa. Existe, por exemplo, a percepção real de uma culpa verdadeira, originada por uma ação que o causador sabia ser errada, portanto que foi cometida com pleno conhecimento e intenção: eis o dolo. Em sua obra Na Luz da Verdade, a Mensagem do Graal, Abdruschin assevera: “o que vem a ser bem e mal, cada um sente até nas pontas dos dedos, sem explicações.” Assim é. Este tipo de sentimento de culpa surge da percepção de um ato nocivo, que nos admoesta pontualmente, como auxílio para tomada de consciência sobre um prejuízo ocasionado a alguém. A sensação de culpa também pode vir de algo que, mesmo tendo sido cometido sem uma má intenção, causou algum dano ao próximo. Em tal caso não houve dolo, mas provavelmente negligência ou displicência. Também aqui o sentimento de culpa é justificado, haja vista o ato nocivo.
No entanto, uma vez chegado o reconhecimento, não há utilidade no sentimento de culpa carregado de forma prolongada, como um pesado fardo. A função da percepção de uma culpa é a da mudança de atitude, para a transformação do errado. Afogar-se em remorsos não só é inútil para a remissão do errado praticado, como ainda pode ensejar novos erros e culpas, pois trata-se um sentimento que oprime e cansa o espírito, e conforme diz também Abdruschin em Na Luz da Verdade, “o que cansa o espírito nunca é o certo”.
O segundo tipo é o sentimento culposo impingido por doutrinas ou hábitos culturais, quando alguém infringe, conscientemente ou não, alguma diretriz ou dogma. São muitos, inúmeros os que em algum momento da vida se viram tropeçando na enorme pedra de culpa associada à violação de um preceito qualquer de crença, sem que isso corresponda realmente a uma transgressão efetiva a uma das Leis que sustentam e regem o Universo. As Leis do Universo não pedem opinião às leis dos homens e suas instituições, tão variadas e mutáveis.
Cada um é responsável pelo que faz. As Leis Universais, ou Leis da Criação, atuam de forma automática, trazendo a cada qual o necessário retorno recíproco, para fins de desenvolvimento. A culpa nesse caso existe e não pode ser ignorada, caso contrário não haveria medida de justiça no mundo. A reciprocidade universal, com fins de aprendizado, devolve a cada um a consequência exata do que foi desejado e praticado através do arbítrio.
Certamente há os que delegam a culpa à mera categoria de sentimento subjetivo, em que basta uma manobra da mente ou da alma para ver se livre dela. Sentimentos de culpa imaginados ou infundados podem, sim, ser afastados desse modo, mas a responsabilidade sobre tudo o que de nós emana, permanece, até poder ser remido pelo resultado final da Lei da Reciprocidade.
Isso se dá para o nosso próprio bem, pois não saberíamos como realmente somos se algum espelho assim não nos mostrasse com clareza, devolvendo-nos o desejado, independentemente da época ou do lugar em que agimos. Tempo e espaço aí não têm nenhum papel. Havendo liberdade de resolução e responsabilidade, seria um contrassenso se não pudéssemos nos enxergar como realmente somos no íntimo, através dos efeitos recíprocos de tudo quanto geramos, pois sem isso não seria possível correção nem evolução.