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DÉFICIT DE NATUREZA


DÉFICIT DE NATUREZA

Recentemente, uma nova tendência surgiu entre os modernos arquitetos: os ambientes biofílicos. Traduzindo ao pé da letra, são ambientes “amigos da vida”, cheios de plantas e de outros elementos da natureza como madeira, água e pedras. Comprovou-se que estes ambientes eram capazes, por exemplo, de aumentar a produtividade de trabalhadores, diminuir o tempo de internação de doentes, e aumentar a capacidade de concentração de estudantes.

A biofilia nada mais é que a constatação de uma antiga verdade: o ser humano tem uma ligação emocional e genética com a natureza. Nossos corpos vêm dela, e voltam para ela. Nascemos com essa ligação instintiva, com esse sentido, mesmo que inconsciente, de pertencimento.

Não é difícil perceber porque: noventa e nove por cento da experiência humana aconteceu junto à natureza.

O êxodo para os centros urbanos, é portanto, relativamente recente em nossa trajetória. De um momento para o outro, nos cercamos de uma selva de concreto, morando estranhamente uns sobre os outros, sem nenhum contato com a terra.

Tudo parecia tão mais fácil, prático, e tão mais racional, que não nos demos conta da imensa perda que sofremos ao abandonar aquela que nos nutria, nos embalava, e principalmente, nos ensinava: a mãe-natureza.

Nossas crianças foram as mais prejudicadas. Estão obesas, hiperativas, ou com déficit de atenção, e muitas sofrem da doença do século: a depressão.

O transtorno para grande número desses casos já ganhou nome: Déficit de Natureza. Para estas crianças, a melhor prescrição que um pediatra poderia dar é: brincar descalço(a) no parque. Estudos demonstraram que crianças com estes problemas tem uma melhora significativa apenas com caminhadas em áreas verdes.

E quanto a nós, adultos? Claro que também não ficamos ilesos da consequência da ação desastrada de um raciocínio exacerbado, que privilegiou a tecnologia dos grandes agrupamentos humanos, em detrimento da simples, mas saudável vida em cidades menores, horizontais e verdes.

Só no Brasil há mais de 11 milhões de deprimidos e mais de 18 milhões de ansiosos. As causas aparentes apontam para os stress, a correria do dia a dia, o excesso de atividades e responsabilidades, etc. Mas são poucos aqueles que conectam essa tristeza de alma à ausência da natureza em suas vidas.

Para um bom pesquisador, não é difícil perceber porque os povos antigos praticamente não conheciam esta doença que ameaça cada vez em maiores proporções o homem moderno. Todas as aglomerações humanas, desde os índios da Amazônia, até os atlantes, obedeciam a mesma ordem e concepção.

Eram estruturas circulares, onde havia ao centro uma construção maior para integração e convivência de todos. Deste núcleo principal partiam caminhos que levavam até as habitações. Todas eram equidistantes do ponto central, ao mesmo tempo em que dispunham de amplos espaços verdes individuais.

Hoje estamos amontoados, aos milhões, em gigantescas cidades cinzas.

Aquilo que a natureza nos ensinou, nos esquecemos. São poucos entre os que estão no campo que ainda sabem ler as horas através da sombra gerada pela luz solar. Poucos os que sentem a diferença na umidade e no cheiro do ar, e na mudança na direção do vento, quando está para chover. Não se observam mais as fases da lua para plantios e colheitas. Não se olha mais para o céu para descobrir o norte. Não se percebe o deslocamento em massa das formigas anunciando o início do período chuvoso. Nossos sentidos estão embotados, ou simplesmente se atrofiaram, porque relógios, bússolas, equipamentos de clima, e uma parafernália de muitos outros, fazem automaticamente o que nossos sentidos já foram capazes de fazer, apenas com uma concentrada observação.

Ninguém se afasta impunemente da Natureza.

O pior efeito é que agora distantes, ficou difícil e até quase impossível, aprender sobre suas Leis. Isto é gravíssimo, porque se aprendemos ou não, estamos sujeitos da mesma forma a estas Leis.

Se estivéssemos mais próximos de nosso habitat natural, teríamos a chance de aprender de forma mais rápida, espiritualmente falando. Veríamos que o Criador é a Força, ainda tão incompreendida, que impulsiona estas Leis.

Se pudéssemos observar cada animal, cada planta, cada flor, cada árvore, veríamos que tudo, sem exceção, abandona seus ventres, seus invólucros, suas sementes, em busca da luz!

E isso teria que nos servir como exemplo e inspiração para a procura pelo crescimento espiritual, em busca da Luz que se encontra no Alto.

A natureza, por meio de suas Leis, e que não são outras que as Leis do Criador, é uma grande professora. Mas atualmente, a grande sala de aula preparada tão carinhosamente para os seres humanos, encontra-se quase vazia.

E cá estamos nós, numa busca desenfreada por avanços materiais, sem enxergar que o preço pago pelo “desenvolvimento” é a própria degradação de nossa mãe-terra.

Oxalá não seja tarde um dia para um retorno. Mas a julgar pelos cada vez mais frequentes cataclismas, e alterações naturais radicais, a mãe-natureza está devolvendo, com extrema justiça, tudo aquilo que recebeu da espécie que mais lhe maltratou, e que menos a compreendeu.

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