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CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM RELACIONAMENTO ANTIGO E POUCO CONHECIDO


Se engana quem acredita que ciência e espiritualidade sempre traçaram caminhos opostos. Em verdade, essa dicotomia é até que bastante recente na história da humanidade, mas poucos sabem disso.


Em muitas tradições religiosas, a observação da natureza tinha justamente um significado espiritual mais elevado. Sua contemplação, no sentido de percepção e apreensão da obra do Criador, tinha um caráter meditativo, reflexivo e devocional perscrutava por Aquele inacessível que cria, por meio daquilo que é criado e a nós mais acessível.


A observação da parte abria caminho para um primeiro e mais acertado tatear e buscar em direção ao Todo, e também a seu sentido e origem. Deste estado contemplativo e imersivo no mundo natural, além da arte, nasceram também as ciências naturais, com presença significativa, inclusive na própria academia (no recentíssimo século XVII). Um detalhe histórico pouco conhecido, uma vez que tais fenômenos se apresentaram de forma muito diversa, pulverizada e inconstante ao longo do tempo.


Reconhecidamente sabe-se que, ao menos algumas partes do conhecimento acadêmico no contemporâneo Ocidente e de escolas de formação no antigo Oriente (especificamente na Idade Média), nasceram do berço de tradições religiosas que cultivam a observação e o interesse pela natureza, dando a esse ato uma reserva bastante especial. Isso sem considerar as motivações científicas inflamadas por um verdadeiro senso de amor ao próximo e de busca pelo bem estar da maioria, fundamentado em um caráter espiritualizado, mesmo que nem sempre religioso. Também e em grande número porém de forma isolada houve pensadores e religiosos que uniram sem dificuldade estas duas pontas entre matéria e espírito, como um ponto de passagem inevitável. Por ele, levaram suas conclusões adiante que, sem essa transposição, não poderiam ir além e teriam que se estagnar e murchar, acabando por flutuarem inconclusas entre si, mesmo que separadamente ainda conservassem seu valor.


Negligenciar a matéria em oposição ao espírito ou fazer o oposto, de fato não é uma questão nova, sendo que na atualidade, teóricos, monges e praticantes da religião sempre se veem às voltas com esta, estranhamente recorrente indagação: qual o limite, a dosagem certa entre uma coisa e outra. Quando termina um, e começa o outro?


Pergunta atual, prática antiga


Ainda na Antiguidade e em alguns povos como Incas, Sumérios, Sabeus, parte dos Babilônios e pré-celtas, o próprio saber não discernia conhecimento espiritual daquele mais prático, do qual hoje fazem parte as ciências naturais, por exemplo. Tudo era integrado, da matéria ao espírito, em perfeita ligação, podendo-se extrair igualmente da observação da natureza, princípios também aplicáveis ao domínio do espiritual, hoje conhecidos como Leis Naturais ou "Leis da Criação", em uno e coeso existir. A separação entre conhecimento do mundo e religiosidade, acentuada em certos períodos históricos e vertentes religiosas, é em verdade bastante nova e surgiu, em grande parte, de contendas e divergências do que seria correto ou pernicioso no ato de "conhecer".





Se por um lado em algumas tradições, o pesquisar foi considerado um afastamento descabido dos desígnios espirituais, por outro, as metodologias científicas, tais como foram constituídas, também solaparam toda uma dimensão sim observável, simplesmente por não se encaixarem em pressupostos materialmente compreensíveis, no sentido estipulado pela tradição científica. Sabe-se hoje, portanto, que a ciência é, sim, fonte de conhecimento, mas carece da integração com outras esferas para que possa se transformar em saber completo, tal como já fora concebido antes por seres humanos racionalmente simples, mas com extraordinária capacidade de elaboração, percepção e conexão transcendental. Nestes, ficava claro que estas duas "formas de ser" no mundo não são de nenhuma maneira excludentes, mas podem existir sobrepostas, conforme um exame mais aprofundado facilmente conclui e suas obras e conhecimento tradicional facilmente denotam.


Enganamo-nos terrivelmente, portanto, quando acreditamos que ciência e espiritualidade foram sempre e uniformemente vias opostas de uma estranha e incompreensível estrada. Também não é difícil de imaginar que, estando a transcendência ligada em última análise à felicidade e à própria condição existencial, não tenha nada a ver com o que compõe e se desenvolve em todos os territórios do existir, no qual caem folhas secas, cantam pássaros, nascem crianças, dividem-se células e desabrocham flores.


Olhar o mundo separadamente ou buscar pontes ainda invisíveis? Quais serão de fato os próximos territórios e fronteiras não exploradas do conhecimento, que julgamos sempre estarem a galáxias de distância, ao invés de tão perto, quase como se insistissem para serem percebidas e notadas?

Começai com a observação do ambiente em torno de vós. Aquilo a que chamais leis da natureza são, pois, as leis divinas, são a vontade do Criador. Sem demora reconhecereis quão permanentes são tais leis em suas incessantes atuações, pois se semeardes trigo, não colhereis centeio, e se semeardes centeio, não poderá surgir arroz!


Isso é tão evidente a todo ser humano, que ele já nem medita sobre o fenômeno em si. Razão por que nem se torna consciente da severa e grande lei que aí reside. E, todavia, aí se encontra diante da solução de um enigma, que não precisava ser um enigma para ele.


"Existe apenas um Criador, um Deus, e, portanto, também apenas uma força que perflui, vivifica e fomenta tudo o que existe!


Essa força divina, pura e criadora, atravessa constantemente toda a Criação, reside nela e é inseparável dela. Encontra-se em toda parte: no ar, em cada gota d’água, nas pedras que se formam, nas plantas que crescem, nos animais e naturalmente nas criaturas humanas também. Nada existe onde ela não esteja."




Por: Caroline Derschner

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