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RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE


RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE

Muitas pessoas acreditam que religião e espiritualidade são coisas correspondentes, ou que se trata da mesma coisa. Ocorre que, por mais afinidade que pareçam ter aos olhos de quem vê de fora, elas nem sempre se misturam. Podem até mesmo ser como óleo e água, em algumas ocasiões. Mas como isso é possível?

Uma pessoa pode ter uma religião e não fazer dela necessariamente uma prática espiritual – isto é, não vivenciá-la ou orientar-se por ela interiormente. Assim como alguém pode cultivar dentro de si um profundo senso de espiritualidade e não possuir declaradamente uma religião.

Enquanto a religião tem suas práticas analisadas e atestadas por alguém que vê de fora, a espiritualidade, por sua vez, nasce nos domínios mais recônditos da alma, e só pode ter sua autenticidade comprovada pela própria pessoa. Dessa forma, é possível alguém possuir uma religião e viver (ou não) alinhado a um senso de espiritualidade ou espiritualização. A espiritualidade é, portanto, algo muito diferente de um título religioso ou até mesmo da noção de um fiel praticante de ritos religiosos.[1]

A palavra religião provém do latim religio, que por sua vez deriva de reeligia, significando o ato de “religar”, no sentido de reconectar o homem a algo superior. O significado original da palavra remonta à ideia de um sentido “religioso” ou de religação viva ou verdadeira, condizente com o esforço de ligar-se novamente a algo Supremo. Mas o que seria uma prática religiosa viva ou verdadeira?

É nesse ponto em que a espiritualidade, mais uma vez, se separa da religião, pois ela é um conteúdo, não um título. Um elixir vivo e único que anima toda e cada crença que por ela se deixe perpassar. É, portanto, a própria vida pulsante de qualquer crença ou religião, assim como a água fresca preenche uma garrafa, animando-lhe o conteúdo.

A espiritualidade também diz respeito muito mais à vida comum. De nada adianta uma pessoa dita religiosa ouvir um sermão de amor ao próximo no domingo e na segunda-feira entregar-se a fofocas e maledicências, por exemplo. Essa pessoa possui o título religioso de fiel, mas desconhece a prática, não vive a espiritualidade de forma viva. Sua crença é vazia e morta, mera exterioridade. Pior: geralmente tem a si mesmo em alta conta pelos atos exteriores praticados, e supondo que os interiores permanecem sem efeitos, desvaloriza o próprio Criador ou religião a que serve, acreditando poder simular algo de forma ludibriante perante eles.

A espiritualidade, portanto, diz respeito a como se pensa, se sente, se intui. Como adoramos aquilo que depositamos no altar de nossas almas, em busca de religação. É possível adorar a Deus, servindo-O de todo coração e a todo momento, sem, no entanto, ter uma religião, assim como é possível ser religioso sem acolhê-Lo de forma autêntica no coração. Praticar, compreender e buscar a espiritualidade viva e única, afastando de si o errado, nocivo e falso, é o que de fato pode transformar qualquer pessoa, guiando-a rumo à ascensão e ao desenvolvimento espiritual.

[1] Nota: Cabe lembrar que espiritualidade (ou espiritualização) e espiritismo são coisas diferentes. O espiritismo pode ser classificado como uma religião, ao passo que a espiritualidade é aplicável a qualquer pessoa, independentemente de crença ou religião.

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